Nossas muitas desonestidades

Há diferentes formas de abordar a questão da desonestidade, então escolhi falar de três formas que enxergo com facilidade no cotidiano, e que também aparecem com alguma frequência na clínica.

Há, sem sombra de dúvida, desonestidade no campo social. Pagamos impostos agressivos, que não sentimos contribuírem para uma melhora da segurança, saúde, educação, dentre tantas outras coisas necessárias para se tentar uma vida digna. Nesse sentido, observo em consultório reflexões a respeito da possibilidade de influência individual sobre o coletivo. Sofremos ambivalências na relação com o Brasil, impotência frente à desigualdade, tristeza diante de tanta violência, dentre muitas outras questões.

Há também a desonestidade que nos mobiliza de maneira mais imediata: se somos roubados; se contratamos um serviço que não realiza o que fora combinado; se um parente ou amigo age conosco de forma desonesta prejudicando significativamente a relação existente. Nessas situações, observo comumente a dúvida sobre o merecimento dessas injustiças. Surgem tentativas de racionalizar as causas do ocorrido, de lidar com os afetos suscitados, de aceitar o que fora pelo destino oferecido.

Por fim, há a desonestidade com nosso próprio eu: quando não sabemos o que é certo para nós e agimos de acordo com a maré; quando nos percebemos desconfortáveis mas não conseguimos expor nosso ponto de vista; quando sentimos que algo/alguém nos fere e não podemos identificar o motivo ou mesmo combatê-lo. Como nos casos anteriores, em consultório será necessário circundar o tema até que se tenha notícia do que poderia ser mais honesto conosco diante de cada experiência.

Com esses exemplos, quero dizer que acredito haver espaço na terapia para olhar todo tipo de desonestidade.

Há muitas formas de pensar como ela aparece em nossas vidas, e também de buscar uma existência mais verdadeira, consigo e com os outros.

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