Ler é coisa imensa

Ler cadernos velhos, com rascunhos que não vingaram e histórias que encarnaram outros corpos.

Ler revistas de fofoca antigas. Ver se as faíscas viraram fogo ou mal chegaram a carburar.

Fazer leitura de lábios, de olhares atravessados, de intenções querendo frutificar.

Ler encartes de cd. São cartas musicadas.

Ler jornal do bairro e o diário da criança escolar.

Ler a mão das amigas segurando-as com amor e convicção. Todos merecemos quem saiba ler nossos futuros.

Cartas de tarot, ler as estrelas e o luar.

Ler o tronco da árvore, a ranhura das folhas, o chão de terra marcado pelos passos.

Ler um jogo de xadrez, uma partida de futebol, um embate presidencial.

Ler poesia entre amigos, tomando cerveja ou curando porre de sono com café.

Ler as pessoas falando nas ruas, na praia, na estação.

Ler o que é, o que foi e o que vai ser.

Ler é acima de tudo criar, é subir num tapete mágico e ver a vista mudar.

 

Ler é coisa grande, disfarçada de pequena.

Não cabe nos livros.