Passados alguns dias da frustração coletiva de termos perdido o Hexa, venho refletindo sobre os contornos que podemos dar às frustrações que nos atropelam por aí.
A maioria das frustrações parece não ter fim: como parente indesejado, o momento de sua chegada é duro; o dia seguinte, tenebroso; o período subsequente, arrastado como carrinho de supermercado com rodinha emperrada.
Frustração atrapalha a vida porque é desvio da rota idealizada. Obra inacabada, é ver roteiro desmoronar. Mas, como quase tudo na vida, a frustração tem outras maneiras de vibrar. Tenho observado que enfrentá-la incentiva práticas artísticas admiráveis: demanda certo malabarismo entre as nossas vontades e as do mundo. Pede que a gente recicle expectativas, desobstrua caminhos, reorganize retalhos. Exige fino equilíbrio entre desânimo e intenção de voltar a sonhar.
Atravessar a frustração exige muito de nós. Não à toa, acompanha nossas experiências mais grandiosas. Garanto que te foi impossível torcer pro hexa sem se frustrar. E o apaixonar? Não há pacote de frustração maior. Viajar é quase sinônimo de frustrar-se, e desafio quem me apresente um maternar isento desse chatear! Em resumo, quem vive, se frustra. Olha que jeito mais maneiro de olhar?
Frustração é companhia paradoxal. Muito evitada e inevitável. Incômoda e convidativa. Que desacomoda, mas obrigada nossa criatividade a entrar em ação.
E nesse refazer, vamos esperançando como dá: xingando, inventando, rezando…e seguindo. Nessas tentativas, aos poucos, bem pouco, damos à frustração um novo lugar.