Eu não sei bem por qual motivo escolhi a Psicologia. O que sei é que não me sentia realizada na área que trabalhava anteriormente, e além disso já aturei muito chefe careta nessa vida. Foi o suficiente pra que – num movimento impetuoso, descoordenado e feliz – eu mudasse completamente os rumos da minha vida profissional.
Eu não sei se trabalharei como psicóloga a vida toda. Mas adoraria se isso se concretizasse. Sei que encontrei uma profissão que tem tudo a ver comigo, absolutamente desafiadora e ainda assim cotidiana (o que no Brasil significa, dentre outras coisas, dura). Riqueza e prestígio social não estão comumente associados a quem escolhe trabalhar nesta área.
Também não sei se vou conviver bem com o paradoxo que meu ofício representa pra mim. Como alguns tantos que vivem na modernidade capitalista, sinto-me repetidamente convidada – quando não, convocada – a mostrar que tenho. Que consigo. Que domino algo e preciso provar, seja em casa, nas redes sociais ou na universidade. Enquanto isso, na prática profissional, experimento tudo às avessas. A cada história que escuto, a cada dor que acompanho latejar, a cada teoria que me dou conta de que me falta muito a me aprofundar, me sinto minúscula. Estudo pra caramba e sei quase nada, vivi intensamente e me surpreendo a cada atendimento, descobri uma vocação de ajuda mas sei que não está ao meu alcance curar.
Fiquei com vontade de escrever sobre isso porque reconheço frequentemente em mim sentimentos hostis relacionados ao não saber, e me dei conta de que escolhi uma profissão onde preciso me amigar do desconhecido, mesmo que nesse movimento me sinta remando contra a maré.
Portanto, o caminho que estou trilhando ruma o acesso a uma ordem invertida. Uma direção onde quem reina não é o sabichão, tem resposta rápida ou está sempre feliz. Mas uma ordem onde há espaço para a dúvida, para o novo e para a transformação. E com isso, caminhos que me ajudem a descobrir quem eu quero e consigo ser.
A psicoterapia é um espaço de não saber. Assim como a vida também pode ser. Só que nem sempre a gente encontra meios pra encará-las dessa maneira, e fazê-las valer.