Em minha experiência profissional, venho observando as muitas dores humanas e como elas aparecem no consultório.
Às vezes, o paciente fala de uma queixa específica já nas primeiras sessões, e isso se repete nas tantas seguintes. Não posso negar que já acompanhei casos onde o próprio narrador se irrita ou desmotiva com sua queixa. Certa época, falei tanto de um assunto em minha terapia, que me lembro de desabafar duramente: “não aguento mais falar disso!!”.
Já ouvi também o relato de um colega que, ao receber um potencial cliente, ouviu: “meu problema é tal, mas não posso nem pensar em começar a falar dele”. Há vezes em que a dor é tão gigantesca, que é preciso quebrá-la para que seja possível seguir existindo.
Tem vezes que o paciente traz uma queixa generalizada mesmo, sem notícia de um ponto focal: nada dá certo, não se sente bem, não tem perspectiva em nenhuma área da vida. Nesses casos, é preciso olhar a queixa grande, do avesso, deixar de olhá-la e tornar a olhar mais uma vez, até que ela resolva se mostrar com outras caras. Torcemos para que migre para uma rua menos erma, com alguma possibilidade de receber visitas e tornar-se mais familiar.
Em outras, a dor aparece melhor definida, mas no caminhar, muda de cor, forma e endereço. O que aparentava ser a queixa, mostra-se com menor importância frente ao que vai surgindo durante o processo.
Esses são apenas alguns exemplos que observo na prática profissional.
Não há forma correta ou única de experimentar o sofrimento, ou então de compartilhar suas queixas na psicoterapia. Cada pessoa experiencia suas dores de forma única, num percurso bastante singular.